educar para crescer
Educação valiosa
Neste ano, pela primeira vez, cerca de 15 mil alunos da rede pública escolar de seis estados estão aprendendo a lidar com dinheiro. Ótima notícia, mas os maiores responsáveis por essa lição fundamental são os pais. E ficar sem ela pode custar caro
Andrezza Duarte
Revista Máxima – 10/2010
[img1]Em agosto deste ano, foi implantado o projeto piloto do Programa Educação Financeira nas Escolas, uma iniciativa que envolve 450 escolas públicas do Ensino Médio nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Ceará, Tocantins, Minas Gerais e no Distrito Federal. Esse programa, que é uma ação conjunta de órgãos do Sistema Financeiro Nacional em parceria com o Ministério da Educação, tem o objetivo de ensinar jovens brasileiros a usar o dinheiro de maneira responsável. É uma lição tão importante quanto aprender a ler e escrever. Segundo o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), 54% das famílias brasileiras reconhecem ter dívidas. E isso tem tudo a ver com a educação. "Grande parte dos adultos que se endivida não aprendeu a poupar e a consumir de forma inteligente na infância ou na juventude", explica a professora Sandra Tiné, diretora de execução de políticas e planos educacionais da Secretaria de Educação do Distrito Federal.
Didaticamente falando
A educação financeira não está sendo tratada como uma disciplina separada das outras. "Ela aparece inserida em matérias como matemática, história e geografia. Isso traz dinâmica às aulas", diz Sandra. A professora explica ainda que o programa conta com material didático próprio e é dado ao longo de três semestres: são três módulos separados por nível e aplicados de acordo com o contexto das disciplinas relacionadas. "Por enquanto, apenas os alunos do Ensino Médio têm acesso ao programa, pois logo entrarão para o mercado de trabalho. Mas a ideia é levá-lo às escolas do Ensino Fundamental a partir de 2012", conta ela.
O papel dos pais
Apesar do esforço de professores qualificados, os maiores responsáveis pela educação financeira são os pais. "O papel da família é fundamental. Como as crianças prestam atenção em tudo, o exemplo é o melhor instrumento de ensino", diz o educador econômico Álvaro Modernell (DF). Concorda com ele a educadora de finanças Maria Belintane (SP): "Uma casa sem organização financeira, onde os filhos não se envolvem no orçamento, favorece um comportamento ruim nas crianças. Mais do que se pensa, elas precisam ser alfabetizadas economicamente", enfatiza.
Quanto mais cedo, melhor
Os especialistas são unânimes: é fundamental que a relação com o dinheiro comece a ser ensinada a partir de 2 anos, para que as crianças despertem a mentalidade responsável. Apesar de ser uma instituição privada e não fazer parte do programa nacional, o Colégio Americana, em Americana (SP), já adotou o ensino há muito tempo para todas as turmas. "Cada vez mais cedo a propaganda estimula o consumismo e desperta o desejo nos pequenos. A partir de 2 anos de idade, as crianças começam a querer as coisas e precisam entender que tudo tem um custo", explica a coordenadora pedagógica da escola, Adriane dos Santos. Para aprenderem na prática, os alunos desse colégio preparam cachorros-quentes e bolos e vendem para os colegas, uma vez por semana. "Por meio do trabalho, eles percebem que o dinheiro é conquistado com suor. O valor adquirido serve para pagar acampamentos e passeios", conta Adriane. Para Maria Belintane, cuidar do dinheiro com organização dá perspectiva aos jovens. "Assim eles conseguem planejar o futuro sem medo."
COMO CALCULAR A MESADA O valor da mesada depende da realidade da família. Este guia é sugerido por Cássia D'Aquino, especialista em educação financeira (SP). Importante: até os 11 anos deve-se dar semanada. Fazendo as contas abaixo, uma criança de 6 anos receberá 6 reais por semana.
Idade - 6-11 anos
Quantia - 1 Real
Número de semanas - 1 semana
Frequência - Semanal
Idade - 12-14 anos
Quantia - 2 Reais
Número de semanas - 4 semanas
Frequência - Mensal
Idade - 15-18 anos
Quantia - 3 Reais
Número de semanas - 4 semanas
Frequência – Mensal
DICAS QUE VALEM OURO
Veja a seguir algumas atitudes que facilitam o aprendizado das crianças
1. Inclua os pequenos no planejamento financeiro da casa, eles precisam entender o trajeto do dinheiro. Explique como a renda familiar é obtida e como é gasta. "Os bens são adquiridos com dificuldade e os jovens precisam saber disso para aprenderem a respeitar o dinheiro", explica Sandra Tiné.
2. Estimule a criança a poupar. Que tal presenteá-la com um cofrinho? Incentive-a a depositar moedinhas.
3. Abra uma poupança para seus filhos e ensine-os a acompanhar os rendimentos. Para poder consumir é preciso economizar.
4. Guarde os comprovantes de pagamento. Ao fim do mês, sente-se com o pequeno e faça as contas de seus gastos naquele período.
5. Leve os filhos ao banco para compreenderem como funciona.
6. Faça compras com as crianças. "É importante que elas percebam o valor das coisas e saibam que tudo tem um custo. Essa compreensão estimula o ato de economizar e incentiva os jovens a lidar com o dinheiro", explica a educadora Maria Belintane. "Na hora das compras, as crianças precisam diferenciar desejos de necessidades, isto é, o que elas querem é diferente do que precisam. Portanto, quando for ao supermercado, compre primeiro o que for necessário. Se sobrar dinheiro, diga que elas podem escolher um ou dois produtos cada uma. Isso demonstra uma boa administração do dinheiro", completa.
7. Dê o exemplo de pesquisar preços. Se com a mesada seu filho decide comprar um brinquedo, ensine-o a procurar pela melhor oferta. Leve-o em diferentes lojas, estimule-o a procurar valores promocionais na internet e ensine-o a pechinchar. Assim, ele preservará a própria verba.
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